Capela de São
Sebastião.
Sentinela silente,
Testemunha ocular
Dos velhos primórdios paulistas.
Do portal da Serra...
Avistas a terra, a Invernada,
A primavera, o verão e o outono
Das matas de nossa história.
És guardiã
perene
De verdades ocultas,
De segredos guardados
A sete chaves;
Coisas dos berços
de outros tempos,
Aqui, neste patamar avançado
Da fazenda Jesuíta.
São murmúrios
discretos,
De um crepitar constante.
Raios e relâmpagos,
Trovão, trepidantes.
Tudo guardas em teu seio silencioso.
Qual mãe generosa,
A todos ouves,
A todos escutas,
A todos acolhes,
Sempre sorris.
Quantas missas
E quantas festas,
Preces, procissões, romarias;
Quanta música, crianças,
Alegria;
Quanta fama na noite paulista,
Naquele distante limiar do século vinte!
Eras assim: brilhante,
ornamentada.
Paramentos escarlates, brancos, verdes...
Teus festejos ainda
trazem lembranças,
Risos e conversas revoam no ar,
Ecoam na Serra.
Com bandeirinhas
Cintilavas rutilante...
Qual noiva radiante
Pelo vento embalada,
Contra o céu azul de uma São Paulo despoluída.
Contemplavas teu noivo
Ao longe...
Altiva e feliz.
Da velha Vila Militar,
Filha Pródiga
Fostes talvez a maior alegria,
Capela de São Sebastião.
Quantas tropas, cavalos
e tropeiros.
Pagadores de promessas,
Cumpridores de missões
Galgando as escarpas de barro e pedra
Da velha Estrada da Cachoeira.
.
E como passou o tempo!
Capela de São Sebastião!
Da velha Chácara
dos Padres...
Vistes tropas de soldados
De sangue manchados
Ao retornar da guerra.
Eram outras eras!
Fostes confessora
e confidente
Dos defensores de São Paulo.
Preocupava-te com teus filhos;
Velavas por eles
Em 30, 32, 64...
Amas teu povo.
Estás ainda disposta a morrer por ele.
Fostes de Washington
Luís,
Filha dileta, menina dos olhos,
Amor-perfeito, da Serra da Cantareira,
Capelinha de São Sebastião.
De uma Força
Pública
Fostes promessa,
Doada em dote
Para ser preservada
Em tua prístina virgindade,
Igreja de São Sebastião!
Como teu padroeiro,
Sofrestes o martírio...
De alma gentil, abristes os braços
E ainda recolhes teus filhos.
Brota em teu seio
árvore mansa
Que te envolve e nela te prendes.
Qual teu padroeiro ao tronco...
És símbolo
da Cantareira,
Da luta de teu povo,
Pela natureza e pela vida,
Capela de São Sebastião!
As madeiras que te
escoram
São como a cruz,
O Santo Lenho...
São tal as flechas...
Mas qual teu santo,
sobrevives
Ao martírio e das flechas
Ressuscitarás.
Pois teu flagelo te
liberta,
Pois libertador dos flagelos mortais
É teu santo padroeiro,
E do sofrimento vem a tua força,
Capela de São Sebastião!
Quando por tuas
Paragens pousavam
Índios e bandeirantes, guerreiros
Deslumbrados
Diante de ti se curvavam,
Davam graças ao Senhor.
Os que iam, suspiravam:
Terços, preces e promessas
Em suspense, tudo dentro do coração.
Os que volviam,
Pela mão de Deus guiados,
No mais das vezes,
Só alegria e contentamento
Acalentavam e cantavam,
Com enorme gratidão.
Fostes talvez um sonho
de
Martim Afonso de Souza,
Princesa de Piratininga,
Capela de São Sebastião!
És hoje esperança
do povo
Paulista.
És de Deus,
Jesus, Maria,
Pertences ao
Espírito Santo... Filha de Santana,
Irmã mais velha de São Pedro, Santo Antônio,
São José.
És de São
Sebastião,
Padroeiro dos Soldados,
És de São Sebastião, o
Grande Defensor da Igreja...
Pelo fogo fostes duas
vezes ferida...
Tuas vestes chamuscadas...
Tuas portas tristemente cerradas.
Por flechas de fogo,
fostes, agora,
Novamente por teus fieis inflamada.
Com flechas de fé, de ouro,
Sobre o rubro manto da vontade, talhadas.
Levas agora a alma
ferida, incandescida
Com a forte fé do povo paulista.
Línguas de fogo de teu Espírito Paráclito
São as labaredas que pairaram sobre ti.
Possuída estás
pela paixão da ressurreição
E nada te fará desviar de teu alto almenara!
Que destino, que missão!
Qual São Sebastião.
E assim
De tuas chagas
Brotará nova vida.
Viverás intensamente,
Capelinha querida.
Assim rezamos,
Assim pedimos...
E que do alto do Pouso
da Água Fria,
Do Barro Branco,
Do Tucuruvi,
Do vale do Tremembé,
Do Jaçanã,
E por toda a Cantareira
Ecoe teu doce nome:
Capela da Serra de
São Sebastião!
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